Antigos ensinamentos para a crise atual.
Diante da crise e das reivindicações mais que justas por reformas políticas, econômicas e sociais, devemos refletir sobre a ética a nível individual. Não há mais tempo pra perder culpando o outro, sem olharmos a nossa parcela de responsabilidade. Somos co-criadores da realidade.
A independência é um sonho. O despertar é a revelação de que todos os seres estão interconectados, embora aparentemente separados. Através do auto-conhecimento, pode-se compreender qual a real natureza da realidade. Somos UM. A principal fonte do sofrimento humano é a ignorância deste fato.
Para que a sociedade funcione de modo ideal, deve-se aceitar um terreno comum no nível de interação social, respeitando as individualidades, mas reconhecendo que fazer mal ao outro é fazer mal a si mesmo. Ser bonzinho não atrai o aquele que busca a Verdade. O que atrai é a possibilidade de disponibilizar a energia e atenção para para direcioná-las ao processo de realização do Absoluto. A moralidade é um facilitador no caminho de purificação do ego. Não acontece de fora pra dentro – isto seria somente um adestramento moral. Surge de um profundo entendimento espiritual.
Baseada nas leis superiores da natureza, a Ciência do Yoga codificou condutas de moralidade transcendente (YAMAS), que é a maneira como lidar com o mundo, capazes de libertar o indivíduo da ilusão e da ignorância:
1) Ahimsa – não-violência: em relação a si próprio, aos outros e ao mundo. O cultivo da não-violência em relação a si próprio é essencial para que a não-violência com relação ao mundo possa de fato se tornar uma realidade. É uma realidade subjacente a unidade da vida. Todos somos um. Aparentemente passiva, esta é uma forma positiva e dinâmica de lidar com a vida. Cuidar do corpo, da alimentação, do meio-ambiente, dos relacionamentos para não só evitar o sofrimento, mas criar paz e harmonia. Envolve também nossa capacidade de discernimento para saber o que nos faz bem e não nos agride.
2) Satya – Verdade: inclui falar a verdade e, mais fundamentalmente, conhecer a verdade mais profunda que permeia toda a criação: unidade para além de toda diversidade e multiplicidade; fonte única de energia e inteligência como base de toda a manifestação. Alinhar nossas prioridades e estilos de vida à essa verdade essencial de unidade, é cultivar satya na vida do dia-a-dia. Satya é o esclarecimento de nossos objetivos e intenções. Na prática, esses objetivos são tanto relativos, como absolutos. Os objetivos relativos podem incluir, por exemplo: bem-estar físico e mental. Já o objetivo absoluto é sempre a liberdade. Portanto, para que a prática de Yoga seja verdadeira, deve-se estar ciente desses objetivos que delineiam o caminho a ser seguido, assim como ajudam a definir e a adequar os meios a serem utilizados.
3) Asteya – não-roubar, cultivo da integridade, obter e usar somente o necessário. A partir do reconhecimento da totalidade, plenitude, unidade, como nossa verdadeira natureza, todas as ações que executamos passam a se irradiar a partir desse conhecimento. Nesse estado de integridade, tomamos do universo, do planeta, das outras pessoas, apenas aquilo que é necessário. Para ter clareza quanto aquilo que é necessário, aquilo que é suficiente, o que realmente precisamos, devemos entrar em alinhamento com o valor da não-violência, em primeiro lugar, e com o valor da verdade, em segundo. Significa desenvolver discernimento para utilizar somente as ferramentas necessárias para alcançarmos nossos objetivos, tanto os relativos e, principalmente, o objetivo absoluto da liberdade. Quando acumulamos coisas, posses ou até praticas espirituais que não utilizamos, ou as utilizamos para auto-promoção, fama ou fortuna, violamos Asteya.
4) Brahmacharya – Geralmente conhecido como abstenção ou contenção da energia sexual. Esta palavra é a combinação de ‘Brahma’, que significa consciência pura, e ‘charya’, que significa aquele que se move. Brahmacharya é o reconhecimento de que nossa energia de vida é preciosa, estando conseqüentemente relacionado à conservação dessa energia e à sua canalização para a jornada do auto-conhecimento. Brahmacharya significa conservar e canalizar a energia vital, e assim se obter os benefícios máximos, em direção a realização da Unidade.
5)Aparigraha – não-cobiçar, não-possessividade, não-apego. À medida que passamos a compreender que tudo no universo é compartilhado em algum nível, que não somos separados das pessoas, da natureza, do mundo, a identificação com a propriedade pessoal começa a ser amenizada. Cada ser é parte do todo, em suas diferentes manifestações. Aparigraha é o dissolver a idéia de “meu”, “meus benefícios”. É o cultivo do valor da prática para o Todo, o entendimento de que fazer o bem pra si é fazer o bem para o outro e vice-versa. Dessa forma, estamos sempre entregando os benefícios para todo o universo, que somos nós.
Baseado nas obras: “As virtudes do Yoga”- Feuerstein, G. “A ciência do Yoga”,-Taimni, “Hatha Yoga Pradipika” – Swami Mukyibodhananda, “Yoga Mala” – Sri K. Pattabhi Jois.